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Freguesias | Leça do Balio

História

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A freguesia de Leça do Balio tem como limites o Concelho da Maia a norte e a este, a freguesia de S. Mamede de Infesta a este e a sul e a freguesia de Custóias a Oeste. Dista cerca de dois quilómetros do Porto e seis da Cidade de Matosinhos (sede concelhia).

Leça do Balio tem uma superfície territorial de 943.1 hectares e uma população, pelos censos do ano 2011 de 17.571 habitantes, sendo o número de eleitores de 14.305. Compreende os lugares da Agrela, Araújo, Arroteia, Catassol, Custió, Chantre, Fafiães, Gondivai, Goimil, Mainça, Monte da Mina, Monte do Vale, Outeiro, Padrão da Légua, Pintas, Pedregal, Picoutos, Ponte de Moreira, Ponte da Pedra, Queirões, Recarei de Baixo, Recarei de Cima, Rio da Aldeia, Santana, Santeiro, S. Sebastião, Seixo e Souto.

Insere-se na diocese do Porto e tem 3 paróquias (Leça, Araújo e Padrão da Légua; esta última com território de outras freguesias). O orago atual é Santa Maria.

Indícios da existência de monumentos megalíticos em freguesias vizinhas, nomeadamente em Custóias, podem sig¬nificar que já no Neolítico, há cerca de cinco mil anos, o Homem utilizava o território do que é hoje a freguesia de Leça do Balio. A verdade, porém, é que os vestígios mais antigos que possuímos da fixação humana neste território, datam apenas de há cerca de dois mil e quinhentos anos, e estão relacionados com a provável existência de um pequeno castro povoado da Idade do Ferro, na elevação de Recarei, (hoje lugar de S. Sebastião).

Muito mais evidentes são os testemunhos da época romana.

De facto, o processo de romanização, iniciado nesta região por volta do século 1 da nossa era, legou-nos, em Leça do Balio, uma multiplicidade de vestígios. Várias pedras de aparelho romano, muitas das quais almofadadas que, são perfeitamente visíveis na base da torre de menagem da igreja do Mosteiro, testemunhando a pré existência no local, ou muito próximo, de um importante edifício romano.

Um dos mais significativos testemunhos e que a época romana deixou na freguesia, considerado como um dos mais importantes achados arqueológicos da região, foi recolhido por volta de 1945 na Quinta do Alão.

Tratava-se de uma ARA com uma inscrição dedicada ao Deus Júpiter: «Flavus, filho de Rufo, cumpriu de boa mente o voto a Júpiter, Óptimo e Máximo». Este é, o documento escrito mais antigo que se conhece no atual concelho de Matosinhos.

Em Leça do Balio são particularmente significativos os vestígios ligados à rede viária, romana, característica que se ficará a dever ao facto de ter sido atravessada por várias vias, algumas das quais de grande importância. Caso da principal estrada romana desta região do Império: a que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga). Depois de atravessar o Douro, esta via atravessaria Paranhos, S. Mamede de Infesta e cruzaria o rio Leça já em território desta freguesia, na Ponte da Pedra. Embora ao longo de quase dois milénios esta ponte tenha sofrido múltiplas intervenções, e o seu aspeto atual seja fundamentalmente medieval, ela é originariamente romana, sendo evidentes na sua estrutura muitas pedras almofadadas.

Uma outra ponte de origem romana existente em Leça do Balio situa-se próximo do Araújo, hoje conhecida como Ponte dos Ronfos e antigamente conhecida como a Ponte da Azenha ou Ponte de S. Miguel de Barreiros. Tal como a Ponte da Pedra, terá sido reconstruída várias vezes em tempos posteriores, mas os vestígios romanos são ainda bem evidentes. Esta Ponte estará relacionada com a «Karraria Antíqua» citada na documentação medieval, que seria uma estrada secundária de origem romana. E pode acrescentar-se que, no Padrão da Légua, derivavam as duas estra¬das, a «Karraria» e a Via Veteris. Esta «Karraria» seguia em frente por Gondivai, Araújo e Custió. E imediatamente a seguir ao cruzeiro colocado ao lado da Igreja do Araújo, que pode ainda ver-se um caminho estreito que inicia a descida para a ponte de Barreiros ou da Azenha, resquício certamente da velha estrada. Atravessada a ponte (e atualmente a Via Norte), a «Karraria» subia para o atual centro da Maia.

Sobre a Via Veteris pode dizer-se que vinda do Porto, esta via seguia para "Cedofeita e daí para o Monte dos Burgos e Padrão da Légua. Antes um pouco do lugar onde, mais tarde, foi implantado o Padrão, pendia para a esquerda, em direcção a Santiago de Custóias, passando não muito longe da igreja paroquial. Em frente seguia a «Karraria antíqua, de que atrás se falou, que tinha traçado comum ao desta Via Veteris, de Cedofeita até aqui. Seguia-se então, pela ponte medieval de D. Goimil (ou de Esposade), para Petras Veyras (Pedras Rubras)". Esta via apenas faz fronteira no Padrão da Légua e em Goimil, com a freguesia de Custóias. E para terminar a conhecida Estrada dos Nove Irmãos. "Esta estrada foi construída nos princípios de século XVI. (...) Até ao Araújo, o traçado seguido foi o da «karraria». Mas aí passou a derivar-se para a ponte de Moreira, então construída, atravessando o lugar de Custió. Esta estrada pode fazer-se ainda mais ou menos no piso da «estrada velha da Póvoa». Antes do fim desta no entanto, é preciso pender para a esquerda pela rua da Ponte de Moreira que se encontra logo a seguir, lançada sobre o Rio Leça, exatamente ao lado de uma mais moderna. Daí subia-se ao Mosteiro de Moreira." O traçado desta estrada pode ainda ser confirmado pela: "Estrada dos Nove Irmãos, hoje também chamada velha, depois da construção da nacional em 1867 do Pôrto a Viana; partia da Rua de Cedofeita, do Pôrto, pela Ramada Alta, Carvalhido, Padrão-da-Légua, Araújo, ponte de Moreira, seguindo até ao Padrão de Moreira o leito da estrada nacional." Esta estrada é a mais comprida de Leça, unindo os locais mais distantes da freguesia. Nas Memórias Paroquiais de Leça do Balio, de 1758, fazem-se referência a oito pontes. Já se falaram em duas faltam as outras seis.

Esta herança viária que Leça do Balio herdou da época Romana nunca mais desaparecerá. De fato, como veremos ao longo destas breves notas históricas, uma das principais características desta freguesia foi, até ao presente, apresentar importantes espaços de circulação, nomeadamente da rede viária. Os seus vales extensos, a sua topografia não muito pronunciada e algumas portelas estratégicas explicarão a preferência que, ao longo dos tempos, lhe foi dada para ser cruzada por algumas das principais estradas que, da cidade do Porto, seguiam para Norte. Entretanto a Dominação Romana, associada a um significativo desenvolvimento da prática agrícola, promoveu nesta região, particularmente a partir dos séculos III e IV, o aparecimento de um tipo de povoamento disperso que subsistiu praticamente até aos nossos dias. Formaram-se então pequenas comunidades agrícolas mais ou menos isoladas em terrenos férteis, propícios à agricultura. Foram elas a origem, na Alta Idade Média, dos pequenos lugares e paróquias rurais. Foi pois, neste contexto, e uma vez que a freguesia sempre foi conhecida pela riqueza e produtividade das suas terras, que se iniciou a fixação dos diversos povoados que constituíram Leça do Balio. Assim, quando nos séculos VI e VII suevos e visigodos se fixaram neste território terão encontrado já pequenos povoados agrícolas cuja origem radicou na fase final da dominação romana. E, com maior ou menor instabilidade, estes pequenos núcleos populacionais sobreviveram às investidas Árabes e a pontuais ataques normandos. Infelizmente, contudo, a documentação escrita sobre esta área na Alta Idade Média não é muito abundante. Entre as exceções não podemos deixar de salientar um documento de 1003 que refere a existência no lugar do Souto de um ermitério que estará, posteriormente, na origem do atual Mosteiro de Leça do Balio. De resto, a história da freguesia passa desde então, e durante quase sete séculos (até à extinção das ordens religiosas em 1834), a confundir-se bastante com a do próprio Mosteiro e com a Ordem do Hospital (Ordem Religiosa e Militar de S. João de Jerusalém), que era proprietária do dito Mosteiro. O couto de Santa Maria de Leça, isto é, o território que era possuído e administrado pelo mosteiro e sobre o qual a Ordem do Hospital exercia praticamente todo o tipo de poder económico, administrativo e jurídico, como qualquer senhorio, compreendia os já referidos territórios das freguesias de Custóias, S. Mamede de Infesta, Barreiros (hoje freguesia da Maia) e São Faustino de Gueifães. A primeira carta de couto é concedida por D. Afonso Henriques, em 1140, à Ordem do Hospital. Esta foi legitimada pelo Papa Pascoal II e deve ter entrado em Leça (sua primeira localização) entre 1122 e 1132 (com elevada probabilidade entre 1122 e 1128). Nessa carta de Couto pode ler-se que "na jurisdição cível e de crime, excetuava-se o homicídio, o furto e a honra das mulheres e nas isenções, foram isentos de coimas, tributo, portagem e da prestação de negócios serviçais". A sede dos Hospitalários permaneceu em Leça até ao séc. XIV. Leça do Balio, como já se percebeu, encontrava-se (tal como hoje) nas rotas das peregrinações a Santiago de Compostela. Este facto explica muito do sucesso e da grande frequência das estradas da freguesia. Ajuda a perceber as beneficiações de que são objeto, quer as estradas, quer as pontes.

A importância de Leça do Balio no dealbar do século XVI, justifica mesmo que, em 4 de junho de 1519, o rei D. Manuel lhe atribua uma carta de Foral (Novo). E em 1571, Leça passa a baliado e deixa de ser comenda (e passa a agregar uma série de comendas).

Para lá do seu Mosteiro e da importância das vias que a cruzavam, a freguesia sempre foi caracterizada também pela sua riqueza agrícola. Muitas vezes foi descrita como «a terra é muito fértil, aprazível e saudável (...) que o Rio Leça rega e fertiliza, ensombrado de basto e frondoso arvoredo...» Não admira pois que as práticas agrícolas tenham tido sempre uma expressão dominante na vida diária das populações da freguesia até aos nossos dias. Ainda hoje são evidentes, um pouco por todo o lado, vestígios, muitos deles, ainda vivos e em utilização dos ritmos rurais e da cultura material a eles associados. Referimo-nos a espigueiros, moinhos e azenhas no rio Leça, palheiros e cabanas, amplas eiras em casas agrícolas, tradicionais carros de bois e arados que pouco e pouco vão sendo a riqueza destas terras e que explica também o aparecimento de algumas propriedades, possuindo importantes casas solarengas nos seus domínios. É o caso da Quinta do Alão, designada também por Quinta de Recarei, já existente nos finais do século XV e que possui um solar seiscentista, com intervenções dos séculos XVII e XVIII. Do século XVIII é também a casa senhorial da Quinta do Chantre, projeto de Nicolau Nasoni, encomendado pelo cónego da Sé do Porto, Domingos Barbosa. Uma terceira casa solarenga existente em Leça do Balio digna de nota é a Quinta de Fafiães. Todas elas se encontram classificadas como imóveis de interesse Público. Nos limites da freguesia com a sua vizinha de S. Mamede de Infesta, foi classificada recentemente como imóvel de Interesse Concelhio uma Capela do Século XVII de uma outra importante propriedade: S. Félix de Picoutos (hoje a Capela de S. Félix da Mainça).

O século XVIII foi caracterizado em Leça do Balio, à semelhança do que aconteceu em tantas outras freguesias da região, por um enriquecimento e entesouramento particularmente evidentes nos edifícios religiosos, e que resulta em grande parte das avultadas riquezas que chegavam então do Brasil, nomeadamente ouro. Não se estranha portanto que alguns templos da freguesia vejam nesta época os seus altares e retábulos decorados a talha dourada e que, exteriormente, as suas fachadas sejam objeto de remodelações. Caso, entre outros, da Igreja de S. Pedro, no Araújo, ou da Capela de Nossa Senhora do Desterro, na Quinta de Fafiães.

No segundo quartel do séc. XIX, vive-se, nesta região, uma página decisiva da História Nacional: a da guerra civil entre liberais e absolutistas. Cenário de várias escaramuças e pequenos confrontos, a freguesia foi marcada pelo fato do oitocentista palacete da Quinta da Ponte da Pedra ter servido de residência oficial a D. Miguel durante o Cerco do Porto (1832-33). Na sequência do triunfo liberal, no dia 28 de maio de 1834, por decreto de Joaquim António de Aguiar, as ordens religiosas masculinas são extintas em Portugal (as femininas seriam mais tarde, em 4 de abril de 1861, por força da lei). Leça do Balio assistiu assim, à extinção dos privilégios e direitos que a Ordem do Hospital ainda possuía sobre a freguesia.

E em 1836, transitou do Julgado da Maia para o Julgado de Bouças. Este último, por decreto de 6 de maio de 1909, passou a chamar-se Matoz(s)inhos (em vez de Bouças). A freguesia, nomeadamente nas margens do Leça, era, entretanto e cada vez mais, local de escape e lazer para a burguesia portuense. Particularmente concorrida era a Ponte da Pedra. Durante séculos importante elemento caracterizador e referenciador da antiga estrada Porto-Braga, aí se localizavam estalagens e restaurantes. No século XIX, tipóias e carruagens acotovelavam-se nas suas cercanias. É que, além do mais, era então também um local «chique», frequentado por «janotas» e «damas da sociedade», como bem descreve Camilo Castelo Branco. De resto, o escritor parece ter sido igualmente um assíduo visitante do local, que lhe serviu de palco, aliás, para uma das suas mais famosas polémicas amorosas. O local, extremamente aprazível, foi também (até há poucos anos e enquanto a poluição do Leça não se manifestou) um concorrido local de lazer. Banhos de água doce, pesca, percursos nas margens, namoro sob as ramagens e passeios em bote a remos no rio, eram algumas das possibilidades que o local oferecia. Mas, aquela que é uma das principais características de Leça do Balio desde a época romana, o servir de travessia para as principais estradas da região, não deixou de se manifestar igualmente no século XIX. A estrada para a Póvoa, que atravessa Araújo e Custió, é significativamente melhorada, havendo alguns troços que são então rasgados e endireitados.

Entretanto, o desenvolvimento das vias de comunicação e dos transportes públicos veio melhorar o acesso das populações vizinhas às zonas de recreio e lazer da freguesia. A Ponte da Pedra, por exemplo, passou de ser, desde finais do século XIX, um local de elite. De tal forma que os «elétricos» (era o número sete) todos os fins-de-semana aí descarregavam centenas de "tripeiros" e outros forasteiros ansiosos por algum divertimento e descanso. Desse passado, o leitor pode vislumbrar ainda alguns vestígios. Se descer até junto do rio, ao parque das merendas, nas traseiras do café Ponte da Pedra, ainda hoje existente, e se esquecer a poluição das águas e a sujidade das margens, o local mantém ainda as suas características bucólicas, convidativas ao descanso. O século XX, em Leça do Balio, caracteriza-se por uma acentuada industrialização, por um significativo desenvolvimento urbano-demográfico e, como não podia deixar de ser, pela abertura de mais uma série de importantes espaços de circulação.

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